Malévola: sobre asas e correntes...
Essa semana, depois de um longo e desértico tempo, fui ao cinema. Entre tantas aflições que vivi esses dias, foi bom estar no cinema. O filme? Malévola, quem quiser que me perdoe ou me condene... Lembro-me da sentença de Leonardo Boff: todo ponto de vista é a vista de um ponto. Assim é o filme: o ponto de vista da bruxa má...ou seria ferida? Pontos de vistas para além daqueles que todo mundo quer ver, sempre me interessam.
Dentre tantas imagens e simbolismos que uma mente fértil como a minha pode perceber, quero destacar as asas e correntes. No conto de fadas: dois reinos em guerra, reis e rainhas, príncipes e princesas, muitos animais mágicos e, como não pode faltar, o plebeu que, angustiado e inebriado pelo poder, deseja alcançar o trono. O que fazer? Cortar as asas, subjugar um povo.
Diante do desafio real de aniquilar o outro reino, Stefan se encontra com Malévola que, por bondade não apática, se dispõem a, mais uma vez, relacionar-se com o nada simpático plebeu. Apaixonadamente ela descansa nos braços do nada apaixonado Stefan. É no cálido adormecer de Malévola que suas asas são cortadas, para isso ele usa uma corrente.
O acordar da Malévola não alada é dolorido, desequilibra, amedronta. O que fazer diante disso? O que fazemos diante disso? A dor esvazia o discurso e o compromisso com a "libertadora ética". A dor inebria e abre portões que sabemos que precisam ficar fechados. Seria a culpa e a condenação a serem assumidas pelo nosso ponto de vista? Não tenho coragem! Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra...
A dor e o amor, prisioneiros de tantas canções e poesias, aprisionam o coração e a mente de Malévola. As correntes que cortaram as asas, aprisionaram o coração. E assim, Malévola segue com atos não respeitáveis, a morte do seu coração esvai maldade pelos seus poros. Mas por ser um conto de fadas, o amor vence! Como seria bom ter as situações da vida invariavelmente fadadas ao final feliz.
A trama se desenvolve, o amor vai ganhado força e libertando o coração, o beijo do amor que acorda a princesa, sai das aprisionadas relações de gênero. Já não é prerrogativa do príncipe beijar e despertar a princesa. É a Malévola, disposta a libertar seu coração, que tem o poder de dar asas à vida, retirando a princesa das correntes da morte.
O ápice do filme: o acorrentado Stefan se vale do ferro, matéria prima do seu coração, para matar Malévola. A resposta do amor, a vitória do amor, vem do compromisso de quem foi liberta do sono profundo: a princesa dá as asas para Malévola! Agora ela sabia o valor delas, mais do que isso, agora ela saboreava o valor da liberdade por estar enlaçada a um amor que não acorrenta.
Dentre tantos pontos de vista que surgiram e surgirão desse filme, partilho aqui a minha vista de um ponto: a necessidade da busca por amores que não aprisionam, mas que libertam, onde as asas nos levem a desejar estar junto, mais do que isso, a desejar estar com. A corrente assegura quem acorrenta. As asas enlaçam quem deseja estar perto, talvez por isso as expressões laços de amor, laços de família.
Que o amor de Deus, que nós envolve com laços de amor, nos dê asas para amar e, mais do que isso, asas para destruir correntes...
Eu não condeno a Malévola! Vejo nela a possibilidade que me instiga a abandonara maldade.Eu não
condeno a Malévola! Vejo nela a possibilidade que me instiga a abandonara maldade.

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