As despedidas sempre chegam na vida, mas para algumas delas, nós não conseguimos dar muito espaço no coração. Dói, rói.
Em mim, elas quase nunca são rupturas, são como o alimento que vai sendo marinado, cozido de mansinho, para que a sua digestão se torne mais fácil. Acho que isso não é muito bom, dura mais que o necessário.
Me despeço de pouquinho em pouquinho, quase acreditando que não preciso ir. De fato, nem sempre queremos ir, mas há despedidas inevitáveis.
Quanto a elas, eu preciso falar muito e sempre, até que realmente aconteçam. É uma espécie de mantra que, no meu coração, se transforma em manta para aquecer o momento.
Uma peça, um cheiro, um som, um tom, uma lua, a rua, as revistas, as escritas, as não ditas... há vezes que não queremos nos despedir de histórias que nos tocam, inscrevem e escrevem.
Não estamos de braços tão abertos e coração inquieto para encontrar tais despedidas, as olhamos de soslaio.
Por hora, penso que quando elas, sem arroubos, nos tomam pela mão, ainda que não pelo coração, é preciso ir. Por que demorar-se no que inevitavelmente vai (des)acontecer? Apesar das incongruências que se convergem no caminho, é melhor partir.
Há desconhecidos que não nos dispomos a conhecer e, assim, não nos despedimos do já sabido.
Não conheço, logo não penso, mas ainda assim, a despedida existe e insiste. Aí está a ousadia e a empatia dessa matreira.
O rumo ao desconhecido é sedutor, gosto dele. Não pense que esta afirmativa parte este texto, do qual não consigo me despedir.
Rumar ao desconhecido sem despedir-se, não é tão difícil quanto despedir-se para rumar em direção ao que (ainda) não se conhece. Este último caminho aponta para uma despedida que implica despir-se...
Em um lugar onde toda nudez é castigada, despir-se é perigoso, amedronta pela liberdade que se apresenta para nos vestir.
Podemos estar despidxs e dispostxs a (re)encontrar a otimista utopia. Não há punição para isso! Suspeito que ela pode nos levar leves para outros lugares e andares.
Chego ao aeroporto e me despeço daqui, parto, por agora, apenas rumo ao conhecido...por agora...
"... E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O AVIÃO que chega
É o mesmo AVIÃO da partida
A hora do encontro
É também de despedida..." (Milton Nascimento e F. Brant).

Este não é um texto pessimista, apenas diz respeito a coisas que sentimos e nem sempre as escrevemos. Dessa vez, escolhi senti-las por meio de palavras. Escrito em 19/09
/2016

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