As orquídeas sempre me ensinam, secas ou floridas; encharcadas de água ou agonizando quando eu fico com preguiça de molhá-las; vívidas ou resistindo às pragas; cheias de hastes que viram flores ou de raízes novas que surgem depois de uma longa florada.
Geralmente as flores de uma orquídea secam e caem, uma por uma, deixando a haste peladinha. Com essa foi diferente, hastes e flores secaram e permaneceram unidas. Nenhuma flor caiu. Essa
secagem foi muito rápida, começou a primeira e logo foi se seguindo uma a uma e, por fim, a haste. Acabei de cortá-la. Na orquídea, ainda há outra haste que com apenas quatro flores, ainda me faz sorrir, tamanha é a poesia e a singeleza dessas flores.
O último ano secou muita coisa em mim e numa velocidade semelhante a que presenciei nessa orquídea. E não foi só por causa da pandemia. Sem esperar, viramos as esquinas da vida e as decepções te sequestram. São diversos os motivos e diferentes as maneiras como se reage a tudo isso. Eu sequei em muitas coisas. Sequei por enxergar relações abusivas, sequei por não saber lidar com divergências simples e complexas quanto ao sentido e valor da vida, sequei por me deixar afetar, de forma equivocada, por gente de longe e de perto.
Os dias de quaresma têm me feito pensar sobre isso e me feito ansiar por transformação. Essa foi uma noite difícil! Daquelas que o luto, a tristeza e a indignação te sequestram. As palavras te faltam e soluções não emergem na insone preocupação. Ainda assim, depois de longo tempo, adormeci.
Se fez manhã e o despertar não foi límpido como o céu que hoje mora fora da minha janela. A realidade se interpõe, os problemas ali estão. Após um tempo de devoção pela manhã, onde lágrimas levaram a oração no lugar das palavras, fui cuidar das plantas. Tudo muito breve, pois a segunda-feira não nos garante esse luxo de investir tempo nisso. Neste cuidar, uma decisão: arrancar a haste seca que há tempos me gritava.
O não secar da vida e das relações não é algo que sempre se consegue. Mas preservar o que está seco é uma escolha que envelhece e adoece. Eu estou um pouco adoecida com o que está seco em mim. Quando, por dor e indignação, só miramos o que está seco, deixamos de admirar as outras flores que ainda permanecem em nós.
Hoje cortei a haste seca da minha orquídea. Não foi qualquer corte, nem com qualquer tesoura. Foi pensado, cuidado, inclusive dialogado com a orquídea (não riam, devaneios de quem ama planta). Sempre antes de cortar uma haste, agradeço por ter me feito floRir com ela. Cortei-a e o fiz com o coração orante desejando cortar o que de seco tem estado em mim.
Como é mais fácil cortar a planta! Não sei como fazer para cortar tudo isto de mim. No cortar da haste, uma oração- compromisso de seguir, à luz do cuidado divino, encontrando maneiras de superar o que seca e ressignificar quem me seca. Tenho tanto por aprender...
Não sei um monte de coisas, mas a sabedoria-simplicidade me diz que a essência da planta é florir e que para que isso aconteça, há que se cortar o que seca. Só assim, se abre espaço para a novidade chegar.
Que seja assim em mim, em nós...

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