Há marchas na bíblia. Certa vez Deus disse: diga ao povo que marche (Êxodo 14.15). Não era a marcha dos exércitos reais, mas a ordem de marchar para longe da escravização, do opressor. E assim se mover em direção a quem preferiu ser um Deus entre nós, não acima de todos.
Ao se achegar, esse Deus não marchou, mas caminhou junto, inclusive de quem talvez fosse pisoteadx nas marchas de sua época.
Em meio à marcha para a crucificação, Jesus caiu com a nossa cruz. E foi um negro com mãos cansadas da plantação, Simão de Cirene, que o ajudou.
Há marchas para morte e marchas que crucificam, mas não só. Há mãos que cuidam da terra, ajudam pessoas e sustentam a cruz.
Há marchas para morte e marchas que crucificam, mas não só. Há mãos que cuidam da terra, ajudam pessoas e sustentam a cruz.
O povo grita, canta, chora, adora. Não nada ilegítimo nisso. Com seu valioso coração crédulo marcha, passo a passo, debaixo do sol. E como chegam os poderosos ao palco? Com sapatos novos e limpos, pés descansados e prontos a pisotear, e mãos formatadas para atirar.
Foi no caminho que o Deus que venceu a morte e optou por caminhar entre o povo, explicou as Escrituras.
Foi no caminhar que ele percebeu a dor de quem andava, a desesperança que tornava a caminhada mais pesada, e a fragilidade na compreensão do seu real projeto. Caminhou, ensinou, aprendeu.
Se no rigor da marcha, os soldados caem de cansaço, mas não param de marchar. O Deus do caminho sabe o valor do descanso. Enquanto caminha conosco, sabe a importância de sentar-se à mesa, do partir o pão, das boas risadas que secam as lágrimas de quem sofre. De quem está de luto por ter alguém morto injustamente, quer pela mão da religiosidade, do estado ou de outras violências.
O Deus que não está acima de todos, mas entre nós, caminha com a gente e se faz caminho dentro de nós. Assim, faz brotar a coragem de caminhar, descansar, correr, pular e brincar, mas nunca pisotear ou matar a quem quer que seja
Não quero marcha, quero caminho, quero carinho. Não quero mãos que armam, mas sim que aram a terra com sementes de justiça e paz, e políticas onde as pessoas tenham espaço para caminhar, pão para comer e lugar para descansar.
Por tudo isso, não quero marchas! Quero caminhos e um novo jeito de caminhar. Nisso eu acredito.

Comentários
Postar um comentário