Dia desses conversei com uma pessoa sobre depressão. Ela queria saber sobre sintomas, tratamentos como é esse processo. Se Freud, Lacan, Jung “complexificam”, Racionais explica: “o barato é loco e o processo é lento”. Neste exercício-presente de olhar o passado, fui partilhando das dores e das flores. Enxergando ganhos e perdas e percebendo a superação cotidiana que vai acontecendo sem a gente perceber.
Coração triste e nublado acontece independente do tom de azul do céu. Quer por tristeza triste, por doença triste ou por um misto que às vezes nem tem explicação, a gente vivencia oportunidades de se reconstruir e precisa ter coragem para não optar pela destruição. Eu já senti muita tristeza nessa vida, algumas mensuráveis, outras inimagináveis, outras até totalmente dispensáveis. E disso tudo eu compartilhei um pouco na conversa.
Falei da surpresa que é ver essa doença invadindo sua vida, sem saber de onde vem e muito menos porque volta, falei da eterna peleja com medicações, que remexem tudo por dentre e por fora, das falhas de memória, da terapia: essa companhia incômoda e totalmente necessária.
À medida que fui compartilhando minha trajetória, agradeci a Deus por me dar recursos (dos mais diversos) para superar tudo isso. Constatei, mais uma vez, o quanto esse mundo injusto nos adoece e ainda nos deixa uma conta grande para pagar. Agradeci também a todas as pessoas que me olharam para além da depressão, que enxergaram em mim vivacidade e acabaram, por intermédio do olhar, do escutar e do afeto, me vivificando.
Sigo em um tempo bom, com desejo-(re)novo de viver coisas inusitadas, de saltar mais de parapente, viajar para novos lugares, conhecer alguém especial, viver outras trajetórias. Toda essa novidade não está no tempo político propício, na cronologia da realidade, porque nela há muita crueldade e descrença de novas possibilidades. Essa novidade fomenta e fermenta o kairós (tempo oportuno) que a utopia presenteia às pessoas que acreditam na vida, nas flores e na poesia.
E eu nem sei como essa prosa veio parar aqui, mas sei que o meu desejo é que a gente pare mais para conversar sobre o que realmente importa, que a gente se salve e se restaure pelo afeto, pela partilha, pelos encontros inusitados, pela poesia e com flores do dia. Ninguém está livre de deprimir, entristecer, mas há pequenas liberdades nas esquinas da vida, na subversão anunciada com a aurora. Que em tudo isso a gente encontre espaço e inspiração para respirar e conspirar por mais renovação. Não desista! Insista! Persista e proseie, sempre e com gente do bem, do belo e do justo. Deus nisto está!

Comentários
Postar um comentário