Minhas orquídeas são poetisas e profetizas para mim, me ensinam o tempo todo. Difícil é saltar do cotidiano para escutá-las. Hoje não foi diferente. Já estava saindo quando me lembrei que não tinha molhado as plantas, voltei. Em um diálogo rápido com elas, que na realidade pode ser classificado como monólogo, segui derramando água. Fui inundada por uma imagem, por esta imagem.

Comprei essa orquídea ano passado. Ela já era meio senhora, folhas longas, fortes, grossas. Quando chegou a mim tinha uma haste e seis lindas flores. Sua cor chá me trouxe calmaria aos olhos assim que a enxerguei. Por isso a levei, sem pestanejar. Pouco a pouco, no percurso da vida suas folhas caíram. Quando a última dava indícios de que murcharia, um botão apareceu, cresceu, floriu. Me surpreendi. Por umas três semanas uma flor reinou absoluta. Hoje percebi que já não está mais sozinha. Agora, mais dois botões que eram improváveis de florescer (pensava eu) tomam corpo dia a dia. Ela precisava me contar isso! Encantada com a notícia, escutei a poesia e a profecia: floresci aos poucos, esperei algumas flores caírem para que outras nascessem.

Faz poucos dias que comecei um exercício de encontrar ao menos duas alegrias no dia. Ontem estava difícil de rememorar o dia e perceber, mas consegui. Diferente dos outros dias, tive que parar e olhar com mais cuidado para a vida. Foi isso que a orquídea me convidou a fazer hoje.

Um olhar cuidadoso cura a vida; previne um câncer; enxerga um amor; desfaz um engano; traz novas-amorosas-libertadoras interpretações; começa uma amizade; escreve uma mensagem ou poesia; caminha um pouco mais; entende que o morrer de uma história não infertiliza as novas que podem florescer aos poucos.  

Um olhar cuidadoso é, inicialmente, fruto de um ser humano cuidado, amado, valorizado e respeitado. Alguém que ao provar do bem da vida e conhecer o mal da humanidade faz a opção por querer bem e por se amar também.  Entre se cuidar e cuidar do olhar, vou eu florescendo e brotando novas esperanças.

Quando acho que o tempo já passou, minha orquídea me anima: tem mais flores a surgir no porvir.

Vou ali, floreScER, vamos?

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