Quando fui estudar teologia, uma das coisas que me fascinou foi que ela me brindou com uma relação mais sólida com o texto bíblico.
Obviamente que aquela máxima "texto fora de contexto é pretexto para heresia", nem de longe resume a beleza de um estudo mais cuidadoso do texto bíblico, mas seguramente é uma porta de entrada para nos ajudar a lidar com esse universo fascinante.
Diferente do que muita gente me disse, a minha fé não se fragilizou, pelo contrário ela se fortaleceu. Aquelas perguntas que sempre pairavam na minha cabeça, mas que eu não tinha coragem de fazer nas classes de escola dominical, vinham sem mistério e sem pudor diante da literatura especializada. Em muitos momentos isso me trouxe alívio e liberdade. Acho que um pouco daquela liberdade que Jesus atrela ao valor do conhecimento.
Um dos perigos da religião é "dogmatizar" a nossa existência a ponto de sequestrar a razão, adormecer a emoção, alimentar e emancipar o medo. Eu não sou biblista, mas amo ver e "desver" esse texto.
A teologia me brindou com novas hermenêuticas que me fizeram reafirmar o desejo de conhecer e crer cada vez mais. Eu acho que me tornei uma pessoa melhor e a Bíblia ficou mais valiosa para mim.
Ontem, quando na verdade já era hoje, pois passava de meia-noite, eu recebi pelo WhatsApp mais um daqueles textos, que você sabe que não precisa e nem deve ler. No entanto, essa classificação só é possível quando você olha para o texto.
Ao ver o conteúdo absurdo, fui coptada, só me restava ver quem o encaminhara. Duas decepções, das muitas que nós vivenciamos nesse tempo de eleição.
O texto? Um compilado de versículos bíblicos que justificam o porquê votar em determinado candidato. Isso mesmo! Uma cuidadosa e irresponsável construção textual com referências bíblicas.
Quem o encaminhara? Um pastor metodista.
O autor do texto? Não conheço, não era o referido pastor, mas isso não é imprescindível.
Me angustiei. Quem enviou para mim e para tantas outras pessoas, foi alguém que, como eu, vivenciou quatro anos de faculdade de teologia.
Tenho dificuldades de entender como alguém que teve a possibilidade de ingressar numa faculdade tão específica, se permite ser canal de uma perspectiva bíblica tão irresponsável.
Além disso, me incomoda o descompromisso com o voto assumido quando nos tornamos pastoras e pastores, especialmente prebísteros(as), cuja função é, entre outras, zelar pela doutrina e pelas Escrituras.
Romantismo pueril? Pode ser, mas meu coração se angustiou. Afinal, essas pessoas estão no WhatsApp e nos púlpitos...
Quando na intenção de validar o nosso voto e conseguir prosélitos (não acho que tenha outra palavra que evidencie tão bem essa irresponsabilidade), a gente abre mão de argumentos sociopolíticos e sustenta o discurso a partir de textos bíblicos, retirados de contextos e usados como pretextos, há muito que se pensar sobre a educação política e teológica que a sociedade estabelece e oferece, mas não só isso.
Há também que se pensar nos caminhos éticos que vamos trilhando e nos atalhos (i)morais por onde somos capazes de enveredar. É tudo tão absurdo. E alguns que pensavam que o problema era a velha metodologia das caixinhas de promessas...
Tristes tempos e triste é a dor que agora daqui de cima, mirando as nuvens, eu sinto.
Impotência, impaciência e um pouco de preguiça de uma interferência, é o que eu sinto. Por isso e sobre isso, apenas esse texto eu escrevo, talvez expie um pouco da minha culpa de não me posicionar diante do pastor ou do grupo.
Impotência, impaciência e um pouco de preguiça de uma interferência, é o que eu sinto. Por isso e sobre isso, apenas esse texto eu escrevo, talvez expie um pouco da minha culpa de não me posicionar diante do pastor ou do grupo.
O bom é que chego ao Rio e vou me aconchegar no encontro com amigas e amigos...isso sim tem muito fundamento bíblico!


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