Essa foto eu tirei na terça-feira (24/07), dia que a última casquinha desse machucado caiu. Pela primeira vez consegui cumprir o desejo da minha mãe, de que eu não arrancasse as casquinhas dos meus machucados. Foi interessante. Diferente de quando eu era criança, não senti vontade de mexer. Talvez porque a memória desse machucado, ainda muito fresquinha em mim, seja bem dolorosa. Caí enquanto atravessava uma rua movimentada.

Depois desse tombo, fiz minha estreia em uma ambulância do SAMU e, pela primeira vez, tomei pontos na testa. Se chorei ou se sorri? Fiz de tudo, vivi intensamente a situação. Para quem me conhece, sabe que teve muito mais choro do que risos.

Agora vejo, pouco a pouco, a cicatriz se acomodando, não tenho mais dor, apenas a lembrança de que consegui superar, dia após dia, as dores, a vergonha de ter caído e o medo de atravessar a rua e cair mais uma vez. Estou bem mais atenta esses dias.

Quando olho para o coração, vejo que a mesma maturidade que tive em deixar a vida seguir o curso e respeitar o tempo da cura do corpo, nem sempre aparece quando se trata das casquinhas que surgem diante das quedas do coração. Diversas, efêmeras, concretas são tais quedas. Algumas trazem cortes profundos que precisam não de pontos, mas de pontes para superação. Outras quedas produzem leves arranhões que ardem muito.

Nem sempre consigo respeitar o tempo da cura da alma.
A bem da verdade, muitas vezes, demoro a procurar o remédio, pois parece que nada vai curar a dor de uma mágoa. Em outras ocasiões, crendo que as coisas vão mudar, eu arranco a casquinha e desprotegida e desprevenida me lanço mais uma vez. O que era um simples arranhão, já não é mais. O arranhão arranhado dói mais do que a primeira vez. Toda a minha ciência e experiência nos tombos da infância parecem não servir para operar a cura ou a melhora das dores da alma, talvez porque têm horas que não conseguimos levantar por conta própria e precisamos de ajuda. É importante se deixar cuidar por quem sabe fazê-lo.

Ajuda encontramos nas pessoas, em Deus e no tempo. Na espera silenciosa e despretensiosa. No respeito aos próprios limites, no cuidado com a autoestima, na poesia, na oração. Minha oração é para que eu tenha a serenidade e a ousadia de superar a dor das quedas, sem deixar de acreditar na vida e nas pessoas. Que as memórias das dores que sofri, das decepções que vivi, não me machuquem a ponto de que eu não possa levantar mais. Que a prudência não se transforme em pessimismo e, com isso, limite o meu caminhar e estreite o meu caminho. Que a certeza de que vale a pena seguir acreditando na bondade, no amor e na verdade seja mais estridente do que o barulho de uma ambulância correndo pelas ruas para salvar as pessoas.

Sigo eu a passos largos, curtos e longos, próximos e distantes desejando trilhar caminhos onde a vida me ame e me ensine a amar, perdoar e a respeitar as pessoas. Valei-me Deus!

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