Na Palavra Mundo

Sobre raízes áreas...

Que bom é poder olhar para o lado e descobrir sentidos. Amo orquídeas e isso não é novidade. Volta e meia posto uma foto aqui, seja de uma que acabou de chegar na "minha floresta", seja de uma flor que em meio a ela brotou. 

Hoje é dia de postar raiz. O currículo hegemônico e positivista nos ensina que uma planta tem raiz, caule, folha e pode ter fruto e flor.

Lembro-me das atividades que me pediam nas séries iniciais: “escreva o nome de cada parte da planta”. E a gente ia vendo-a de forma estanque, em separado. Talvez, seja por isso que as flores e os frutos nos atraiam tanto, ao mesmo tempo que às raízes, lhes presenteamos com a falta de importância estética. 

Hoje virei e vi uma raiz, das muitas que por aqui há. Não aprendi na escola que raízes podiam não estar dentro da terra. Mais uma perversidade curricular: encerar as coisas e as pessoas em definições únicas e estanques. 

O que vejo é uma raiz no ar. Orquídeas tem raízes aéreas, elas se orientam pela umidade para continuar a vida. São depósitos de nutrientes e água, em alguns casos fazem a fotossíntese quando a planta perde as folhas.

Fotossíntese. Acredite, este não é um texto de biologia, mas lembro que quando aprendi sobre isso achei incrível, primeiro pela palavra (vocabulário de gente grande) e depois pelo conceito em si: produzir energia para viver!

Voltemos às raízes. Uma raiz aérea que busca o ar e não está fincada na terra. Isto me soou perigoso, precioso. Há o mesmo valor na raiz que, silenciosamente debaixo da terra, não se deixa silenciar.

Aliás, se tem algo que se escuta nas plantas é o silêncio. Folha a folha, raiz a raiz, flor a flor, fruto a fruto, vão aparecendo, lentamente, e em silêncio. E, de repente, escutamos o belo silêncio falando aos nossos olhos. 

A raiz aérea cresce porque silenciosamente o seu voo vai em busca da umidade. Neste movimento, desejo que da terra fértil do meu coração, raízes aéreas saiam em busca de humanidade, de humanização!!! Isso sim nos faz crescer.

 A vocação para humanização é, para Paulo Freire, uma marca do ser humano que, quando consciente da sua “inconclusão”, lança-se em direção a “ser mais”, buscando curiosamente outros ares, outros caminhos (de paz e não de guerra; de equidade e não igualdade; de justiça e não de privilégios; de amor e não de medo; de ética e não de moralismo).

Essa aventura curiosa faz-nos crescer, voar em outras direções. Na fofa e segura terra tem lugar para algumas de nossas raízes, mas no ar um crescimento arejado me espera! O caminho em direção a humanização escolho eu. 

Fotossíntese ou falta de síntese ( processo que consiste em reunir elementos diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los num todo coerente)?Escolho eu de que energia vou me alimentar. 

Eu sigo voando em direção a floreScER, porque é sobre raízes que escrevo aqui.