Cuidado com a Cuca...
Por esses dias foi Chico Alencar, agora é Leandro Karnal que paga o preço por jantar em "má companhia".
Antes de qualquer decepção apressada, sei que entre eles não vale nenhuma comparação.
Leandro está longe de ser um expoente ou defensor aguerrido da esquerda, seus escritos mostram isso (não invalido seu trabalho, acabei de ler um livro dele e gostei muito). Já Chico, tem na veia e na história uma militância inquestionável.
Um traz o constructo teórico da ética (não digo que não o pratica), o outro tem este carimbo na sua trajetória política. Eu, particularmente, admiro Chico já por seu anel de tucum, aquele que causa antipatia em tantas pessoas.
Karnal e Chico foram vítimas de um patrulhamento que cada vez mais toma corpo ou seriam "armas"? Mas será que precisamos ficar tão refém assim das pessoas?
Será que é preciso sorver tudo que falam e escrevem, ignorando nosso paladar e as alergias nossas de cada dia?
Acho que não... é melhor que não. Afinal, a nossa admiração, afinidade, filiação ou seja lá o que for que nos faz curtir as páginas e pessoas no Facebook, passam pela nossa criticidade que, à medida que vai se apurando, se encontra com a velha sabedoria da vida: ninguém é perfeito, nem mesmo a gente.
"O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão". Graciliano Ramos
Sim, os heróis morreram de overdose, nem sei se isso é de todo ruim, mas fico a me perguntar se, às vezes, não somos nós mesmos que entregamos a droga para eles.
Em tempos de "cuidado com a Cuca, que a Cuca te pega, te pega daqui, te pega de lá" (a Cuca do Monteiro Lobato, execrado bem antes desses dois), eu quero continuar a dar crédito a minha possibilidade de dialogar e refletir sobre meus encontros e (des)encontros. Eles alimentam meu senso crítico, minha tomada de decisão por onde andar, e alguns me fazem beber na água do arrependimento. Isto é bom.
Não há impunidade e imunidade nos caminhos nossos.
Muitas vezes reificamos pessoas e humanizamos situações.
Perigosa a minha fala? Sim. Passível de críticas? Muitas. Mas foi o que surgiu diante do que aconteceu com Chico e Karnal.
Não posso ignorar a incômoda situação de que um dia seja eu que, ao virar a esquina, esteja falando com quem 90% da minha rede virtual odiaria.
Aos meus amigos e amigas eu peço que se isso acontecer, me tragam uma sopinha e chá com biscoito de água e sal.

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