Sobre carcarás e sabiás no dia da ave.


Hoje é o dia da ave (05/10). Como gosto delas! Livres e ligeiras brincam com o céu, isso eu invejo, queria eu sair voando por aí. Depois de uma excelente reflexão que ouvi da minha amiga Sara, aprendi que o significado da palavra sabiá é "aquele que reza". Aprendi também que o sabiá é a ave símbolo do Brasil, que cada sabiá tem seu próprio canto, não existem dois sabiás que cantem da mesma maneira. Na primavera ele é o primeiro pássaro que canta, antes mesmo de amanhecer. Com essa reflexão fui convidada a ter uma vida orante, a ter coragem de expressar a minha prece, a minha oração a Deus, a não calar-me ainda que seja noite. Saí da devocional com o coração terno, cheio de gratidão e (en)canto.
Revirei minhas memórias, minhas histórias, queria eu celebrar a liberdade voadora. Até me deparei com um poema que fiz, um dos que eu mais gosto, mas achei melhor não publicar. Não agora. Continuei a revirar-me e o que achei? “Carcará”, a música que teve suas asas cortadas no período da ditadura. Aquele tempo que, infelizmente, já não está apenas nas doloridas lembranças, mas hoje avança com fúria para tomar o controle da nossa ampulheta...
Para preservar a suave e sensível estética da bela reflexão da manhã, queria eu publicar algo doce, leve, mas carcará presente está! Não só na minha cabeça, não só no seu bioma, mas assentado e assentando-se nas mais diversas cadeiras, estas postas para nos engaiolar. Mais famigerados carcarás que matam, pegam e comem encontraram, desde domingo (03/10), pouso no nosso cenário político.
Porque carcará se faz presente diante de mim, soa aos meus ouvidos a história sobre urubus, pintassilgos, canários e sabiás do “beija-flor” Rubem Alves. Essas três espécies que cantavam sua a liberdade, a essência e a humanidade foram expulsas das florestas pelos urubus, isso porque não tinham diplomas de canto, apenas (en)cantavam. Ali não poderiam ficar! “Em terra de urubu diplomado não se ouve canto de sabiá”, este não estudou para ali estar.
Sabiá se tornou símbolo do Brasil, é companheiro do povo. Quer no campo ou na cidade, sabiá presente está. Nesse nosso solo tem sabiás sendo expulsos, tem urubus diplomados que com suas mesóclises medíocres irritam nossos ouvidos, tentam nos ensurdecer, nos emudecer. No entanto, mesmo diante do grito do carcará e do silvo das cobras, sabiá não vai parar de cantar! A oração do sabiá é seu canto, o som que ele emite é o mais audível ao ouvido humano. Sabiá não vai parar de cantar! O canto do sabiá todo mundo vai escutar.
Percebo que depois daquela bela reflexão não foi apenas a ternura, o encanto e a gratidão que preencheram o meu coração. Há desafios que dele transbordam e entoam a minha orAção. Saibam urubus diplomados que sabiás estão por aqui, por aí a voar, unidos em cantos cuja diversidade é a riqueza da unidade. Carcarás pegam, a gente canta para libertar; carcarás matam, a gente canta para ressuscitar; carcarás comem, a gente partilha para toda fome saciar. O canto é a prece, a luta e a labuta e mesmo no escuro, saibam de uma coisa: sabiás não vão parar de cantar!



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