Antes de amarelar setembro...
Já já, setembro amarela e eu ainda não consegui partilhar minhas lembranças nada solares, nem tão amareladas pelo tempo. Setembro amarelo traz um tema caro e nada raro, o suicídio. Sempre envolto em dúvidas humanas e dívidas religiosas, esta tentativa de morte da dor encontra espaço no calendário da vida. Que bom!
Depressão, dor, desespero, desprezo, são tantos "d" que colaboram para que um simples dia, se transforme no "dia d". Aquele dia onde o grito de quem vai silencia e as palavras de quem fica. Tudo emudece.
O suicídio é um problema da vida, não da morte. Portanto, é algo que nos toca e deve nos tirar da toca. Aquela toca onde a confortável reprodução de uma opinião nos exime de encará-lo para refletir.
Como diz um post que vi: o suicídio quer acabar com a dor, não com a vida. Não suspeite do que essa premissa deseja afirmar, seguramente não intenciona minimizar tal problema, tal tabu. O suicídio não se suicida. Bom seria! A ele não se imporia juízo, se sentenciaria o alívio.
Desejo de morrer, desesperança, depressão, todos estes sentimentos estão presentes nas narrativas bíblicas. O salmista se desespera, Elias nada espera, Jó grita, a Sunamita desacredita. Pedro se frustra, Tomé não vê, Maria Madalena fica triste, João Marcos desiste.
É a humanidade que a Bíblia retrata! É na humanidade que ela relata o divino encontro, sem omitir os desencontros.
Depressão não dá em árvores, dá em pessoas. Foi com essa frase que uma psiquiatra me "discipulou". Por que não contigo? O que há em você de mais importante para que esteja isenta de vivê-la? Não respondi. Não pude!
Sim, pessoas crentes deprimem, pastores e pastoras se suicidam, religiosos e religiosas, cristãs e cristãos, das mais diversas tradições, se deparam com este nó cego da espiritualidade. Existem vazios não preenchidos!
Longe de um discurso esvaziado de sentimento, legislo um pouco em causa própria. Depressão, ansiedade, angústias, desesperança e pensamentos de morte, já passaram na minha vida e, às vezes, nela circundam.
Na vida que Deus me deu, tive o desejo de devolvê-la. A substância informe que Deus desenhou, cuidou e amou, vive um dia de cada vez. Alegrando-se e entristecendo-se. Desesperando-se, deprimindo-se, mas não só. Me levanto, canto, sonho, luto, prossigo, sorrio, me alegro, me enfureço, obedeço, rebelo-me e assim vou me in-formando dessa realidade chamada humanidade.
Descobri que é melhor não se encobrir, o que não significa não se proteger. É assim que encontro liberdade para me humanizar. Faço isto de diversas maneiras, uma delas é não desprezar ou desconsiderar minhas fragilidades. Há que se cuidar! Tratamento não vicia, liberta. Aprendi depois de muitas quedas.
Considerar as fragilidades não vitimiza. Isto dá espaço para a verdade. Como é bom subir ao púlpito sem as amarras de uma estúpida fortaleza! Para fortes-fracos, isto talvez pareça absurdo. Para fracos-fortes, isto é para que a fé não pereça.
Partilhar fragilidades é adubar o solo para florescer as boas experiências insurgentes. A cura e a superação não estão numa linha de chegada, mas na dura construção de cada paralelepípedo da estrada que se corre. Uma pedra de cada vez e nem sempre num dia após o outro.
No meu constante (re)viver tenho encontrado saídas e novas entradas. Elas não estão nos discursos heroicos e triunfalistas, mas fortuitamente aparecem na humana quietude, nos colos que se abrem para as verdades insanas que, muitas vezes, saem do meu peito. Como é bom ter pessoas que te permitem falar a verdade!!!! Sem preconceitos.
Para quem é perfeccionista, a depressão pode ser a luta desesperada de quem não enxerga benefícios no erro. Pouco a pouco o erro tem educado meu ego, isso dói, isso cura. E a vida se mistura a começos e finais. Há tempos felizes e tristes, solitários e solidários.
A Deus, quero eu agradecer por cada lágrima enxuta! Agradecer as possibilidades de superação, o amor que, pouco a pouco, liberta a minha forma de ver a vida e as pessoas.
Com meus amigos e amigas quero celebrar cada olhar e ouvir amorosos, confiantes, desconfiados e, ainda que incomodados por não saberem o que dizer, sempre me presenteiam com a serena e sonora esperança.
'Não se exponha, se imponha". Por esta estrada, não sigo eu. Vou perseguindo um caminho onde a dor sentida, traga sentidos. No setembro amarelo nos deparamos com o desafio de não amarelar em direção à vida. A primavera nele anunciada pode esperançar a minha história e a de tantas outras pessoas que se (des)constroem com a vida.
Verdejou, sigo eu...sem condenar quem parou.

E é porque eu (per)sigo, que julgar estas pessoas eu não consigo, não consigo. Verdejou...

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