Em tempos de Babel, o desafio de dialogar como
em Pentecostes
“E como os ouvimos falar, cada um em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? (...). Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados! ” Atos 2.11b.
A palavra diálogo vem da fusão
de duas palavras gregas: dia e logos. Dia
pode ser traduzido como através enquanto
que logos assume vários significados
como palavra, expressão, significado. O
diálogo é premissa para a convivência, por meio dele nos colocamos no mundo,
interagimos e nos transformamos. Para além da conceituação da palavra diálogo,
está o desafio em dialogar. Há diálogos e diálogos, no entanto, quer positivos
ou negativos, autoritários ou “empoderadores”, são eles que estabelecem as
nossas relações sociais. Portanto, o diálogo nos compromete.
É tempo de Pentecostes! A festa
que acontecera após a morte e ressurreição de Jesus ficaria marcada para sempre
na história da humanidade. Foi nesse dia, quando as pessoas reunidas
dialogavam, louvavam e oravam, que se cumpriu a profecia anunciada no Antigo
Testamento (Joel 2.28-32) e a promessa de Jesus (Lucas 24.50-53): O Espírito
Santo inunda a vida humana!
Há quem afirme que o Pentecostes
é a redenção da Torre de Babel (Gênesis 11.1-9). Na construção da cidade e da
torre, as pessoas se apropriaram de uma terra (v.2), desenvolveram suas
tecnologias (v.3), estabeleceram padrões religiosos e se iludiram ao achar que
teriam o controle sobre tudo. Nessa construção estavam implícitos a autopromoção,
a onipotência e o egoísmo, pois queriam se fechar em si mesmos (v.4). Quando
Deus desce para ver a cidade e a torre, é isso que encontra: uma linguagem
única que não favorecia o diálogo, mas que se apresentava sob a forma de um
monólogo opressor, explorador e enganoso que promovia um projeto de vida
egoísta, centrado em si mesmo. De fato, era preciso confundir essa linguagem!
(v.7) Por mais alta que fosse a torre, nunca chegariam a Deus dessa forma, pois
nos aproximamos de Deus apenas pela sua Graça.
Em Jerusalém, por ocasião do
Pentecostes, as várias línguas geradas no episódio da torre de Babel ali também
se encontravam. A cidade construída por mãos humanas havia matado Jesus, o
Nazareno. No entanto, o Reino estabelecido por Deus garantia a ressurreição de
Jesus, o Cristo. Na construção do Reino, o símbolo não é a cidade nem a torre,
mas a simples casa (Atos 2.46-47). É nela que o vento do Espírito, que não pode
ser encerrado em nenhum lugar, em nenhuma torre, vem soar, encher e preencher
os corações.
Quando o Espírito desce,
encontra pessoas disponíveis que aguardam as ordens para construção do projeto
de Deus. A manifestação divina não é para confundir! Com o simbolismo das
línguas de fogo, Deus vem dialogar e impulsionar que as pessoas dialoguem e se
entendam. Assim acontece, os discípulos que ali estavam começaram a falar em
diversos idiomas sobre as grandezas de Deus. Para além da polifonia das
línguas, a linguagem do amor de Deus era anunciada! A confusão das línguas foi superada pela ação do
Espírito Santo!
Na torre de Babel o domínio de
tecnologias avançadas apontava para um conhecimento técnico, privilegiado. Quem
propunha o diálogo, quem trazia a mensagem do que fazer e como fazer, tinha um
conhecimento formal e de destaque social. Mas quem falava em Jerusalém por
ocasião daquele especial Pentecostes? Eram galileus! O que isso significava?
Galileus eram pessoas da periferia, do interior, sem muita instrução formal
(Atos 4.13). Isso era surpreendente e as
pessoas não conseguiam entender o que se passava ali (Atos 2.7). Entre a
admiração e o espanto havia no coração de quem era temente a Deus, a disposição
de ouvir e se apropriar da mensagem libertadora do Evangelho. No entanto, havia
também quem não estava disponível para ouvir, dialogar e se comprometer. Por
isso, desprezava o que estava acontecendo e até loucura falava: “É bebedeira”.
Não era bebedeira, estava muito cedo (v.15). Comer e beber tão cedo não era
parte do costume judaico.
Vivemos na Babel com o desafio
de mantermos o diálogo anunciado em Pentecostes. Difícil tarefa a nossa! Em
meio à cidade, aos projetos pessoais, nosso coração dever estar na casa, na
tarefa solidária de colaborar para que outras pessoas encontrem a Cristo. Não
há problema nenhum na busca de realizações pessoais, o problema está em
encerrar a vida nesses projetos. A nossa realização pessoal e profissional
precisa estar conectada com a casa comum (oikos), com a família, a Igreja, a
sociedade, com o planeta!
No diálogo em Pentecostes houve
temor, obediência e disposição em dialogar com gente diferente. Houve cuidado
com o que se falava, houve reconhecimento de que a sabedoria humana pouco vale
diante da sabedoria divina. Que a gente se disponha a dialogar mais e que seja
o nosso diálogo um reflexo do que aconteceu em Pentecostes. Uma coisa temos por
certo: a Graça de Deus entre nós, por meio da revelação bíblica, nos enche de
humildade e compaixão para ouvir e também de coragem, respeito e misericórdia
para falar!
Sempre em diálogo,
Andreia.
Imagem: 21_Anne Brink gallery_Pentecost
artbible.net

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