Jesus, as Marias e Clarices e, também, nós.

As caminhadas agradáveis e risonhas foram, não tão lentamente, substituídas pela perplexidade que se traduzia em lágrimas que quase paralisadas, mal conseguiam seguir seu caminho.

Ele que não parava quieto, sempre em busca de encontros que, quase sempre, se transformavam em encantos, tinha seus pés transpassados por aquilo que nasce para fixar, imobilizar, ater a algum lugar. Falo dos pregos que também fixavam suas mãos, ilusoriamente lhe impedindo de acarinhar, de abençoar e afagar quem perto dele estava.
Que o diga aquele homem que fora crucificado com Jesus! Não quero eu reforçar o que lhe levara à cruz, o exercício que faço é lhe enxergar humano, da mesma forma que Cristo fez, e assim lhe garantiu um espaço no seu reino que é lugar do bem viver que se dá por meio do conviver.
As lágrimas lentamente iam presenciando aquela cena: soldados zombando, pessoas perplexas, o Cristo sofrendo, sentindo-se abandonado, com sede, com dor, com medo. Ele finalmente se entrega.
Há morte e triste está o coração do sol que não quer mais brilhar, mas sim se unir a dor do céu e das mulheres que ali estavam. Juntos sentiam aqueles pregos lhes fixando a dor da perda do Amigo, do Cristo, do Irmão.
Escondidas, não vistas, esquecidas eram sentimentos e posições que as Marias conheciam muito bem. Foi com Jesus que elas aprenderam e buscaram outras geografias para seus corpos, para suas vidas, mas agora precisavam espreitar e longe do Mestre ficar.
Ele que com elas caminhava, animava, ensinava, agora era morto. Mas como ir embora? Como abandoná-lo? Era preciso ver para onde o levariam para então poder cuidar, perfumá-lo, embalsamá-lo e assim garantir não só um sepultamento, mas a dignidade humana. Falo daquela que as pessoas que perderam seus entes queridos nas torturas das ditaduras, nos mares em busca de refúgio e nas vielas das favelas, lutam por resgatar.
O menino que nascera de uma mulher, convivera com elas, tinha-nas sofrendo a dor da sua morte, a separação. As lágrimas das Marias não estavam mais estáticas e temerosas de descer, corriam soltas e carregadas de tristeza, se uniam a de outras pessoas que ali sofriam com a ausência de Jesus, mas se unem também, desde sempre, a tantas outras Marias e Clarices nos solos do Brasil e de todos os demais espaços subalternizados da nossa latente latinoamerica e também de África e outras partes do mundo.
Na morte de Jesus, a perene vitória da injustiça, a morte de pequeninos e pequeninas, das pessoas injustiçadas e da vida digna, justa e pacífica. Na fidelidade das mulheres a fé afetuosa é afetada pela presença constante e contrastante de Jesus, o inconformismo e a predisposição de seguir adiante, tão adiante que domingo bem cedo foram ao túmulo e testemunharam, com exclusividade, a vitória da vida!
Que em nós aja e haja o inconformismo das Marias, suas fidelidade e predisposição de seguir adiante perseguindo o cuidado. Que em nós tenha e se detenha o compromisso com a justiça, a paz e o afeto.
Nesse tempo da Paixão de Cristo,
Andreia.

Imagem: He Qi KKK Easter Morning 
Fonte: artbible.net

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