Entre a noite e o dia: uma experiência ao "amanheSER"!
Hoje depois de um irrequieto sono, despertei. Era noite ainda,
até colocar meus pés no chão, eles ainda rolavam na cama enquanto o pensamento
corria inveterado por veredas inconstantes... levantei-me.
Fiz uma coisa aqui, outra ali, são aqueles hábitos que
construímos dia após dia e quando nos danos conta, fica difícil saber se eles
são nossos ou somos nós que os pertencemos. Depois dos hábitos habilitados, fui para a sala e liguei meu
habitual objeto de trabalho: o computador. Revirei-o daqui e dali, chequei e-mails, olhei
uma rede social e, motivada por essas fortuitas campanhas, postei uma foto, enfim,
aos poucos, fui fazendo coisas não necessárias.
Algum tempo atrás eu não acreditaria que olharia o facebook de madrugada...isso
nem de longe chega a ser corriqueiro, mas com certeza é a antítese de um hábito
que já tive...ao me dar conta disso, surge um riso sem graça no canto da boca.
Na verdade, liguei o computador para fugir de um tempo de oração
que, ainda que desejasse e necessitasse, não conseguia ter, pois não tinha
forças para apresentar minhas dores e flores, estava com dor na alma! Aquela
que todo mundo sente!
Depois de um tempo, de forma desencorajada, fiz uma simples
e despretensiosa prece, dessas que a gente tem a sensação que "não passou
do teto". Em seguida, fui ler o No Cenáculo, um livro com histórias que sempre
alimentam a minha jornada na fé. Comecei a lê-lo na esperança de que aquelas
palavras saltassem e alimentassem meu coração, como habitualmente experiencio,
mas, especialmente hoje, isto não aconteceu.
Menos que de repente, até mesmo com um olhar fugidio, me virei
para janela, percebi que a noite ia diligentemente dando espaço para a manhã
que, ainda que não acompanhada do céu claro e do sol ardente que permearam meus
desenhos infantis, chegava se impondo e transpondo.
Àquela prece enfraquecida e mirrada que saiu do meu coração
angustiado, a Graça divina trouxe com o amanhecer algumas respostas. Para além
do que já foi revelado, de forma preciosa, no salmo 30: "o choro pode
durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã", a recém-chegada manhã
acinzentada me gritava: não me olhe como você faz habitualmente! Hoje chego com
a novidade de uma resposta alentadora à sua oração: "Há um momento para
tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu" (Eclesiastes 3).
O
romper do dia na linguagem bíblica vem sempre recheado de esperanças e justas
possibilidades de transformação graciosa da vida e das pessoas! Insistentemente, a manhã me desafiava a ver o que habitualmente
a rotina não me deixa perceber: a possibilidade do amanhecer surge em meio à
existência da noite, ele só se torna perceptivelmente belo (mesmo não colorido
de todo) quando a fria noite não nos aconchega, quando nela temos a
possibilidade de sentir a sólida solidão de tempos de tribulação. Me perdoem os
amantes da noite, onde deita a minha amada lua, uso nesse texto um dos muitos
sentidos figurados que a poesia humana tem sido capaz de construir.
Essa noite
foi para mim assim: um tempo difícil!
A minha oração não foi feita de forma habitual, seguindo regras
que me (des)ensinaram, talvez por isso se tornou tão viva e inteligível, meu
coração falou o que minhas palavras calavam e Deus, que nada tem de rotineiro e
previsível, amanheceu uma resposta esperançosa no meu coração.
Que essa divina e amorosa acolhida que por agora experimento,
possa inundar a vida de todas as pessoas que, assim como eu, estão a precisar.
Que os nossos olhos e o nossos pés não se deixem amarrar pela habitual rotina a
ponto de não percebermos o Deus multiforme que nos fala, nos escuta, nos vê e
nos sustenta para além do que podemos conceber ou perceber.
Obrigada Deus por me ensinar com a noite e com o dia, obrigada
pela possibilidade de "amanheSER"!
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