Entre o céu e o palácio: a trajetória dos reis magos!
O menino nascera, a estrela
companheira trazia os sábios. Aos pouquinhos, as estradas iam sendo iluminadas
e o caminho revelado. A única bússola estava no céu, ao olhar para cima os
sábios enxergavam os passos a serem dados na terra. A cada quilômetro
conquistado, os presentes ganhavam mais significado e assim o caminho ia sendo
percorrido.
As conversas, as risadas e as
expectativas faziam o tempo passar mais rápido. O Rei era o motivo de tão longa
jornada e tão ousada aventura. Provavelmente, na cabeça dos reis magos o
nascimento de Jesus já estava posto: um palácio, lençóis de linho fino, servas
e parteiras ao lado da mãe. Um anel pomposo no dedo do pai e muito vinho para
celebrar a chegada dessa real novidade.
Quando chegaram em Jerusalém, a luz
da estrela ficou ofuscada diante do brilho do palácio. Só podia ser ali, não
havia nas imediações nenhum lugar digno de receber o Rei. Não tinham mais a
necessidade de se deixarem guiar pela estrela, eles haviam chegado ao melhor
lugar para um Rei: um reluzente palácio. Era hora de entrar, esse era o momento
de se deparar com o motivo de tão longa viagem. Um rei fora encontrado: a
preciosa coroa, os anéis de ouro, o farto banquete, tudo isso confirmava a
prévia ideia dos reis. Afinal, como diz Boff, cada um lê a partir de onde os
pés pisam.
Logo descobriram que Herodes nada
sabia sobre o Rei, a busca não tinha chegado ao fim. O dono do palácio
enxergara com estranheza a visita e lia como ameaça a notícia que viera com os
magos.
Paz na terra às pessoas de boa
vontade!
Vontades transbordavam em Herodes na
mesma medida que a bondade se esvaia pelo ralo. Por desejar tanto o poder, não
poderia partilhá-lo com ninguém. Onde o Rei deveria nascer? Era essa a pergunta
que fazia girar seu coração, palavra que em árabe significa girador. Coração e mente
engrenados num só propósito: direcionar suas rodas para levá-lo ao pequenino,
sua grande ameaça.
Todos os sábios, sacerdotes e
escribas giravam em torno disso: havia de se descobrir onde o Rei nascera.
Em Belém! A profecia anunciou a
vitória da periferia, a inversão da geografia. Saber o lugar não era
suficiente, outras informações ele precisava. Os magos são usados pra isso. Sem
desconfiar de nada, eles contam sobre a estrela e tudo mais que envolvera a
viagem. O tum tum do coração de Herodes desejava outra melodia. Era preciso
saber tudo, tim tim por tim tim.
Enquanto os sábios descobriam que o
Rei não havia nascido no belo palácio, Herodes encobria sua intenção em matar o
menino. Era hora de continuar a jornada, à medida que se afastavam do reluzente
castelo, eles redescobriam a luz da estrela, companheira da jornada. Lá estava
ela, parada onde nasceu o menino.
Olhando para um lado e para o outro,
chegando bem de mansinho na humilde casa eles perceberam... agora tudo fazia
sentido, a longa viagem não era para levá-los ao óbvio, ao castelo, mas sim ao
novo, a humilde casa. Era lá que estava Jesus.
Não havia vinho abundante, farto
baquete, anéis de ouro, muitos servos e servas. A simplicidade do ambiente foi
o lugar ideal e preferencial para manifestação da glória de Deus. A preciosa
presença de Cristo, aliada à alegria da descoberta inclinaram os corações que,
prostrados, adoravam e presentes lhe ofertavam: ouro, incenso e mirra.
Alegria na casa, Maria e José
partilhando os últimos acontecimentos e Jesus recebendo mimos e carinhos de um
amor que só um bebezinho gera nas pessoas adultas. Eles haviam chegado ao fim
da jornada, o bate papo foi até tarde, mas o cansaço gostoso que vem sempre
depois de um objetivo atingido, chegou. Era hora de dormir.
Aos seus amados ela dá enquanto
dormem (Salmo 127.2). Um sonho foi a provisão recebida: mudem de caminho,
peguem outra estrada, porque a luz do palácio vai lhes enganar mais uma vez.
Para 2015 fica o meu desejo de que a
luz de Cristo, que ilumina todas as estrelas, nos guie para longe dos palácios
que nos ofuscam do verdadeiro sentido da vida. Que o nosso girador movimente a
nossa vida em direção à paz, à justiça, à solidariedade e à amizade, lugares
propícios para nascer o amor.
Feliz Ano Novo!
Com afeto,
Andreia
* texto inspirado no meu amor por
presépios e em um sermão do bispo Stanley.

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